Expressões do tipo “quebrar paradigmas, globalização, mercado competitivo, investimento em estudo e pesquisa” estão em nosso meio e muitas das vezes preferimos fechar os olhos e achar que estão fora da nossa realidade, que são acontecimentos de grandes centros e metrópoles.
Podemos pensar assim? Lembrando da crise financeira de 2008, era tão distante, não tinha como chegar em Picos, mas chegou, e foi questão de tempo, não aconteceu instantaneamente, mas veio 2009, exigindo planejamento e cautela nos investimentos dos anos seguintes, e 2010 veio com muito arrocho. Já em 2011 para quem achava que já tinha passando, muitas empresas fecharam, inúmeras pessoas perderam os empregos.
Já em 2012, lembram da Kodak? Enquanto festejávamos o início deste ano esta empresa mundialmente conhecida pediu concordata. E o que isso tem a ver com as empresas do mesmo ramo em Picos? Uma necessidade de mudança de comportamento e adaptação para sobreviver nesse mundo globalizado. O ano de 2012 chega cheio de surpresas, o mundo não vai acabar, mas como sempre, requer adaptação às mudanças, enfim empresa contábil, empresa comercial, tudo é empresa, todas possuem um patrimônio, tudo precisa ser cuidado e ter continuidade.
Neste contexto, o contabilista é peça fundamental no processo de planejamento, estudo, registro e controle do patrimônio, e isso não é história de sala de aula, professor ou faculdade. Sabemos que há uma enorme diferença entre o ensino e a prática contábil, mas quem conhece a história contábil, sabe que este ciência muito avançou ao longo de séculos, por diversas escolas e aplicações (escola italiana, escola americana, escola brasileira), mas tudo em função dos avanços comerciais da época, com muito estudo e pesquisa.
A Contabilidade sim, e ao longo dessa sucessão, esse sistema econômico se transforma, os regimes se alternam, mas a Contabilidade continua firme, cuidando do patrimônio, prestando serviços, demonstrando resultados.
As empresas (entidades com fins lucrativos ou sem fins lucrativos) e os empresários ou gestores precisam de informações para tomar suas decisões, é claro, precisam da prestação de serviço "braçal" que o governo impõe às empresas, para efetivamente cobrar os tributos (taxas, contribuições e impostos). O contabilista está inserido nesse meio, executando essa prestação de serviço, mas necessita também investir em estudo e pesquisa, dar uma olhada no que está acontecendo, avaliar essas situações.
Desta forma a empresa precisa informar suas transações comerciais, sejam elas positivas ou negativas, para os diversos usuários, tais como o próprio dono, os investidores, os fornecedores, os bancos, o governo, e até os próprios clientes (com o avanço do balanço social). Mas além de preencher papéis, as informações que estão nestes documentos precisam ser transformadas em relatórios e informações claras sobre o patrimônio das empresas, são trabalhos distintos, mas originados das atividades de gestão (compras, vendas, pagamentos e recebimentos) que ocorrem diariamente nas empresas.
A contabilidade tem relação direta com esse universo de acontecimentos, os empresários precisam de papéis preenchidos para prestar contas ao fisco, mas necessitam de informações para tomar suas decisões de como o patrimônio deve ser preservado e aumentado.
Quando estudei na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), uma universidade pública, entre os anos de 1996 a 2000, essa faculdade que é massacrada constantemente pela informação negativa, pelo descaso dos governos ao longo dos tempos, mas que ainda é referencial, prova disso é que os vestibulares ainda são concorridos nesta área e as faculdades privadas se proliferam ofertando estes cursos. A UESPI ainda é um referencial na oferta de cursos na graduação. O mercado de trabalho absorve muita mão-de-obra dos cursos de contabilidade, e ainda temos o que resolver empreender e montar seu próprio escritório, graças aos bravos professores e alunos que lutam por uma educação de melhor qualidade.
Ainda como estudante, no ano de 1996, na área de gestão, conheci um senhor chamado Mário Junsuke Uemori, mas por anda o Sr. Mário Junsuke, pessoa carismática, de sotaque japonês, que trabalhava na ICASA? Ele era conhecido pelas suas poucas palavras, mas fortes, com sabedoria. Fazíamos o curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, gostava de aproveitar o tempo e ouvir seus pensamentos sobre os assuntos de gestão explanados em sala de aula e do mundo coorporativo. Não sei por onde anda hoje, foi transferido, mas neste mundo globalizado é fácil encontrá-lo pelas redes sociais, com certeza.
Certa vez, num trabalho em equipe, neste contexto mesmo de equipe, pois dividíamos conteúdos, atividades e conhecimento, o Sr. Mário Junsuke falou de uma leitura que tinha feito sobre uma empresa de contabilidade em Brasília, que atuava no Distrito Federal e em outros estados. Ele também comentava muito sobre o trabalho em equipe, em forma de associação. Neste contexto ouvi a palavra consultoria de forma mais reforçada, além de outras leituras e cursos que fiz. Ficava a imaginar se uma empresa de outro estado distante atingiria a cidade de Picos, nessa distância, e ficava a pensando como o mercado contábil de Picos era tão estável.
Nesse contexto, e mais tarde, já ao final do curso, no ano de 2000, partindo para uma pós-graduação em Contabilidade, ouvi falar de outros conceitos na área contábil, conheci outros contabilistas (participei pouco de congressos fora do Piauí, aproveitei muitos os que existiam por perto), e também professores de outros grandes centros. Tive esta oportunidade nos anos de 2001 e 2002, com a pós-graduação na Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Após a graduação é que ouvi falar nesses novos termos contábeis como: "goodwill" (na contabiliade avançada), perícia contábil e auditoria contábil, nossa grade curricular não possuía essas terminologias, foi difícil, mas superamos isso (36 alunos). Só quando fui dar aula na mesma na UESPIU é que fiz mais um curso de perícia contábil para ter mais habilidade e conhecimento nessa área e repassar para os alunos. Ainda hoje é uma luta para unificar a grande curricular de ciências contábeis no Brasil, mas pelas proporções imensas do país, com regiões distintas em termos de atividades econômicas, em cada estado ou região é possível uma grande curricular diferente nas universidades espalhadas pelo país.
Nos anos seguintes, após a formatura e inscrição no Conselho Regional de Contabilidade do Piauí (CRC-PI), do ano de 2001 em diante, dividindo o tempo na prestação de serviços na área pública em escritório de contabilidade (apenas 18 meses) e em sala de aula (já são 11 anos), tive oportunidade de conhecer um novo ambiente, cheio de paradigmas a serem quebrados, pois antes via apenas o lado externo da prestação de serviços, estava diante de uma oportunidade de aprender mais e poder oferecer uma nova visão de contabilidade, pois como estudante estava preocupado com o mercado de Picos, tanto na prestação de serviços como na gestão das empresas, e como docente (professor) percebi que poderia contribuir para o crescimento da área contábil nesta região.
A Contabilidade é uma ciência que possui vários ramos de atividades para o profissional escolher onde atuar. O Contabilista pode atuar na prestação de serviços, mas pode também dar aula ou no setor público com contador. São inúmeras as atividades do profissional de Contabilidade registrado, não necessariamente estar preso a uma mesa, preenchendo papéis e fichas.
Nesta época, onze anos depois, ainda tenho a mesma visão, mas amadurecida de que a cidade de Picos, tipicamente comercial, possui características próprias de polo comercial num raio de 100 Km, com 52 cidades e mais de 450 mil habitantes. Imagine só, quantas empresas, sejam comerciais, indústrias ou de serviço, existem nesse espaço geográfico que necessitam de contabilidade? Com essa demanda as ofertas dos cursos de contabilidade vão continuar, o crescimento comercial vai continuar, a oferta de prestação de serviços contábil vai estar sempre em alta, pois sabemos que se são 52 cidades, como resultado são 52 prefeituras e mais 52 câmaras municipais e uma infinidade de secretarias e controladorias. Ainda temos o Terceiro Setor que com inúmeras empresas do tipo associações e fundações necessitando da prestação de serviços contábeis.
Quero relatar uma experiência que muito me deixa contente, pois muita gente me pergunta se ainda tem espaço para contabilidade em Picos, Piauí e costumo contar que quando iniciei como professor na UESPI, no ano de 2001, através de concurso público para professor temporário, ministrei uma disciplina que durante o decorrer do semestre letivo solicitei uma atividade de equipe onde os alunos deveriam desenvolver um projeto de montar um escritório de contabilidade e apresentar em forma de seminário. O resultado foi positivo, pois desta atividade surgiu um grupo com o interesse em dar continuidade ao trabalho. Ao se formarem, os membros do grupo montaram um escritório de contabilidade, e hoje conquistaram o seu espaço atendendo clientes na prestação de serviços em contabilidade pública e comercial.
Li uma matéria no site Jornalista292 e fiquei admirado com a visibilidade da área contábil em Picos, Piauí. Temos uma associação de contabilistas que está empenhada em desenvolver atividades e cursos em diversas áreas de interesse da categoria, mas pouco temos conseguido a participação efetiva dos profissionais, principalmente pela quantidade de profissionais inscritos na região. A matéria comenta sobre uma reunião de negócios que ocorreu entre os empresários na noite de 25.01.2012.
De acordo com o site, “o referido Grupo empresarial que reúne profissionais de Consultoria Tributária, Auditoria, e Assessoria em Direito Tributário e Empresarial. Possui escritórios nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, além de atuações nas principais capitais de Estados brasileiros. Atualmente, é composto por: Equipe de reconhecidos doutrinadores do Direito; Auditores; Contadores; Administradores; Economistas”. Ver matéria em http://www.jornalista292.com.br/noticia_detalhe.php?id=12198
O tempo passou, as lutas continuam para a conscientização dos colegas contabilistas e dos empresários picoenses de que a prestação de serviços contábeis em nossa região é séria, é continuada e de qualidade. Mas resolvi escrever este artigo para abrandar um pouco da minha inquietação de ter pensado há 15 anos atrás e ver um fato ocorrer neste ano de 2012, então, isso é “quebrar paradigmas, globalização, mercado competitivo, investimento em estudo e pesquisa”? O que faremos para dar mais visibilidade à profissão contábil em nossa cidade de Picos, Piauí?
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Professor Ms. Marx Rodrigues de Moura
Eixo Gestão e Negócios - Contabilidade
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Piauí
http://www.ifpi.edu.br
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